domingo, 2 de setembro de 2018


"Custa tanto ser uma pessoa plena, que muitos poucos são aqueles que têm a luz ou a coragem de pagar o preço...
É preciso abandonar por completo a busca da segurança e correr o risco de viver com os dois braços.
É preciso abraçar o mundo como um amante.
É preciso aceitar a dor como condição da existência.
É preciso cortejar a dúvida e a escuridão como preços do conhecimento.
É preciso ter uma vontade obstinada no conflito, mas também uma capacidade de aceitação total de cada consequência do viver e do morrer."



terça-feira, 12 de setembro de 2017

Coração...


Embalado por esta canção simples, contagiante e despretensiosamente profunda, à  priori, estou a devanear mais uma vez.
Antes começar, gostaria de registrar o quanto fico impressionado como este blog se tornou um lugar que detém memórias de momentos diversos e receptáculo de minhas abstrações, muitas das quais só consigo atribuir sentido algum tempo depois.

A metáfora do coração como centro de nossos sentimentos por vezes nos conduz à exigência de que ele funcione num sincronismo perfeito, de forma compassada, como se assim fosse teríamos mais êxito em nossas escolhas, nossos sentimentos seriam menos confusos e consequentemente nos veríamos em menos situações desgastantes, tristes ou coisa do tipo. Podemos passar toda a vida buscando e/ou esperando que essa mágica aconteça, não assumindo os riscos de deixar nosso coração pulsar verdadeiramente.

Se viver é arriscar, nada mais comum que esse sentimento pulsante, que expulsa todo comodismo e mornidão de nossas vidas. Demoramos a entender que o coração é a analogia da vida, pois é nesse movimento sistólico-diastólico que ela acontece: entre a intempérie e a bonança, os altos e baixos, alegrias e tristezas, escolhas e desistências, vamos construindo nossa história, “bombeando” sentido aos nossos atos, atitudes às nossas dúvidas e coragem aos nossos sentidos, renovando, por fim, esperança em nós mesmos.

“Coração não é tão simples quanto pensa.

Nele cabe o que não cabe na despensa, cabe o meu amor, cabem três vidas inteiras, cabe uma penteadeira...”

domingo, 8 de fevereiro de 2015

De copo cheio e coração vazio...

Estava numa festa com amigos e dentre tantas músicas que tocavam ouvi uma cujo refrão diz: “... De copo sempre cheio e coração vazio, ‘tô’ me tornando um cara solitário e frio...”. Até então nada fora do comum. Uma música amplamente conhecida no cenário da música nacional, como tantas outras que haviam tocado e outas que viriam a tocar. Mas num posterior momento de observação pude notar o quanto aquela letra era cantada com propriedade pelas pessoas que ali estavam, inclusive por mim, talvez pelo grande sucesso que a referida música tem feito atualmente. Mas será que é só isso?

Analisando com um pouco mais de profundidade não é difícil concluir que em alguns aspectos esta música reflete a realidade de muitos que, de fato, encontram-se de “copo cheio e coração vazio”, mas não quero com isso reduzir tal reflexão a uma questão meramente afetivo-emocional, como sugere a canção, seria muito pouco diante do realmente podemos questionar.
Para início de conversa, através da metáfora do “copo cheio” fazer alusão a tudo o que toma nosso tempo, energia, emoção, atenção, tornando nosso “esvaziando nosso coração”. Agendas cheias, cabeças cheias, vidas cheias e porque não o copo cheio, literalmente?! Muitos problemas, compromissos, projetos, promessas, desilusões e expectativas acabam por tomar-nos de quem realmente somos. O barulho e tamanha movimentação de uma vida cheia são um ótimo esconderijo para quem foge do encontro consigo e daí torna-se comum encher-se de coisas a fim de protelar tal encontro. Ostentam-se rotinas agitadas, vidas sociais badaladas, luxo, baladas, currículos, influência, corpos esculturais e notoriedade, mas e o coração, como está? Esta é a questão! Quem é e como está a pessoa por detrás de tudo isso?
Em tempos de total exposição de nossas vidas através das diversas redes sociais, nas quais fazemos nada mais, nada menos que uma autopromoção de nossas personas, me questiono: Somos quem e o que ostentamos? Parafraseando Antonie de Sain-Exupéry, em O Pequeno Príncipe, que diz: “O essencial é invisível aos olhos”, levanto a questão: O que nos é essencial? O que determina, de fato, a essência do que somos? O que apresentamos: nossa verdade ou uma personagem de fácil aceitação geral?

Na condição de filhos de Deus somos, fomos criados à imagem e semelhança do Amor e para Ele vivemos, em Sua busca nos encontramos desde o momento em que nos entendemos por gente. Cada um buscando da sua forma, com o seu jeito, usando do livre-arbítrio a nós concedido para alcançar esta meta, o que me leva a conclusão de que nosso coração se preenche à medida em que nos aproximamos daqueles nos aproximam de nós, consequentemente nos aproximando de Deus. Em minha opinião a verdadeira ostentação é ter ao nosso lado, pessoas que nos aceitam, acolhem e amam por quem somos de fato, que marcam presença nas tempestades, quando o “copo” está quase transbordando, pessoas que mesmo diante de nossos defeitos, preenchem nossa vida e coração, aproximando-nos assim, de Deus. A verdadeira ostentação é ter ao nosso lado alguém que nos conduz a Deus.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Retornando...

"Ah que falta que me faz a casa de meu pai
Pra lá quero voltar e assim recomeçar
Prostrar-me ao seus pés e ali me humilhar
Reconhecer minha miséria
Eu vou clamar sobre mim sua misericórdia
Mesmo sem ser merecedor como servo
Vou voltar..."

Tal qual o trecho supracitado, meu coração se encontrava com saudade! Há muito já inquietava-me, mas escolhestes um local, uma data, uma circunstância e muito feliz, hoje digo: "Vou voltar!", aliás, "Já estou de volta!"
Todas as escolhas, situações vividas, decepções, vitórias, angústias, sonhos, planos, são como uma bagagem que carregarei comigo pelo resto da minha história, mas agora estão submetidos à Tua vontade, pois em Tua presença é o melhor lugar onde eu posso estar, as experiências dos últimos dias não me deixam dúvidas!

"Pôs sandálias aos meus pés e inteiro me lavou
E novas vestes em mim colocou
Pôs em mim um anel, me dignificou
E a mim a sua herança de novo confiou..."

Diante de tudo o que já vivi em Deus, meu coração se alegra diante de tanta misericórdia e posso afirmar com toda certeza que Suas promessas são de vida e para toda a vida. Hoje consigo imaginar claramente como aquele filho pródigo se sentiu após retornar à casa do Pai, pois é assim que me sinto: renovado, limpo e de vestes novas, digno, reanimado e disposto! Sei que muito há de vir, lutas serão travadas, momentos de deserto e outros de proximidade, mas acima de tudo a certeza de que o Deus que escolheu, me capacitará, dará condições de alcançar tudo o que Ele reservou para mim e me fará contemplar a vitória do Seu amor em minha vida!

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Quem é você quando ninguém pode ver?

Dias após nossa última conversa esta pergunta surdiu em meus pensamentos e desde então me inquieta. Acredito que esta questão não venha para ser respondida, mas para fazer pensar, refletir e mais que isso mudar a forma de perceber e agir.
Vejo tantas pessoas se perdendo na busca de si, ou melhor, na busca por alguém idealizado na vontade de outrem. Partindo da premissa que fomos criados à imagem e semelhança de Deus, não deveríamos buscar outra coisa diferente da nossa essência; nossa fé, por sua vez, deveria se basear em nosso anseio pessoal (vindo da essência) e não numa suposta convenção de “conduta reta”, pois qual eficácia teria uma fé que não vem do que somos de fato?
Creio que a lei pela lei gera atores e potencializa a ação do recalque na gênese de suas neuroses, que se manifestam das mais diversas formas, de maneira que na maior parte do tempo lidamos com as “personagens” e não com a pessoa e sua verdade.
Experimentei e testemunhei os feitos de um Deus que muito me prometeu e hoje experimento muito de sua misericórdia, pois permanece fiel como nos tempos de outrora. Reconheço Sua destra sobre minha vida das mais diversas formas, o que me leva a rogar: Que minha razão reconheça aquilo que meu coração há muito experienciou, pois diante das coisas que já vivi a lei pela lei não me basta!
Cada dia que passa, sinto aquela necessidade de “dar razão à fé”, como conversávamos. Hoje vejo de uma forma mais clara, acredito que a fé (fundamento das coisas que não se pode ver) encontra sua representação (torna-se visível) em cada um de nós, na nossa verdade enquanto pessoa e não naquilo que nos tornamos para provar que somos bons ou merecedores de credibilidade alheia. Em toda vida de Jesus isto é muito claro, desde o seu nascimento até sua morte Ele põe em questão todas as “convenções” e vai além do olhar e aprovação alheios. A samaritana, Bartimeu, Hemorroísa, Maria (irmã de Marta), Pedro e tantos outros foram reconhecidos e tocados na simplicidade de seus corações, na verdade daquilo que eram e a obra de salvação aconteceu a partir daquele “sincero nada”.

Eis o meu ponto, a minha questão, o meu “nada” e é tudo o que tenho para Te ofertar, que eu não me afaste de mim e que minha sinceridade me conduza cada vez mais para perto de Ti. Que eu seja o mesmo diante dos outros e quando estivermos “a sós”.

sábado, 4 de maio de 2013

"Aponta pra fé e rema!"

É estranho sentir as coisas fora do lugar, mas quais seriam seus devidos lugares?
Fazemos planos, sonhamos, lutamos e tentamos fazer acontecer conforme o planejado, nem sempre dá certo, às vezes não conseguimos fazer como o planejado ou o plano não foi bem elaborado e por vezes dá certo. 
Sempre estamos à procura de algo, alguém ou alguma coisa que ajude a equilibrar nossas forças, sem nos dar conta que os únicos capazes de tal feito somos nós mesmos. 
Acredito que tudo que nos acontece tem um propósito, o que não significa que podemos nos eximir da responsabilidade sobre nossa liberdade e necessidade de escolha. É preciso aceitar que somos para o mundo e não necessariamente o contrário, pois se assim fosse,  nossas vontades se realizariam tal qual planejamos. É preciso ter força, encontrá-la onde parece não existir mais nada que preste; é preciso ter fé, no seu sentido mais simples, apenas crer...
Tenho medo daquilo que passa, das oportunidades não aproveitadas, das palavras que não foram ditas, de sentimentos guardados a sete chaves.
E se tudo acabasse agora?
O que faríamos com nossos planos mirabolantes? O nossos sonhos, tão felizes e bonitos, onde ficariam? E os sentimentos que ficaram aguardando o tempo oportuno para vir à tona?
Continuamos reféns do acaso, entregues às surpresas de uma vida efêmera, esperando que esta se encaixe, como um grande quebra-cabeças. 
Não há mais tempo a perder, a vida nos chama!
É hoje, agora!
"Aponta pra fé e rema!"

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Cativar...

"...Após uma reflexão, acrescentou:

- Que quer dizer "cativar"?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços.

- Criar laços?
Exatamente, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto
inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não
tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil
outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para
mim o único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves
esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável
pela rosa..."
(O Pequeno Príncipe - Antoine de Saint Exupery)

Com um trecho deste livro, que me "cativou", volto a devanear (se assim posso dizer), escrever sobre aquilo que me toca, que me faz refletir. Espero que novos textos, reflexões e devaneios sejam aqui publicadas com maior frequência a partir de agora. 
Reconheço que quando parei pra ler 'O Pequeno Príncipe' pela primeira vez, achei que tinha em minhas mãos um livro para crianças, como aquelas historias de contos de fada. Me surpreendi, pois não se trava de um livro apenas para crianças, mas para adolescentes, jovens, adultos, idosos... Principalmente para os "adultos"! Desta época até a presente data passaram-se alguns anos e percebo o quão atuais e verdadeiras são suas lições.
Cativar... realmente uma coisa esquecida atualmente, uma palavra que praticamente caiu em desuso. Nesses tempos em que o "ter" vale mais que "ser", temos nos empenhado em conquistar, obter, pela simples necessidade de "ter que ter". Esquecemos das pequenas conquistas, dos detalhes que cativam, que não somente criam laços, mas os tornam consistentes. Um olhar retribuído, um sorriso, o silêncio de uma escuta sincera, a preocupação despretensiosa, são as alegrias do "ter por ser".

"... Tu te tornas ETERNAMENTE RESPONSÁVEL por aquilo que cativas" uma consequência, um tanto quanto pesada, uma responsabilidade imputada àqueles que se dispõe a cativar e/ou se deixam cativar.
Como ser eternamente responsável, se não somos eternos? 
Mas a lição da raposa é proporcionalmente linda e simples, e nada pesada!
Vivendo sinceramente a experiência de cativar, o sentimento de responsabilidade para com o outro surge naturalmente, reflexo de um ato de amor, de um "querer bem", de uma atenção recíproca e o ETERNO, por sua vez, não se dá pelo tempo que ficamos próximos, mas pelo significado que atribuímos, pela verdade que expressamos e pela coragem de cativar continuamente.