Estava numa
festa com amigos e dentre tantas músicas que tocavam ouvi uma cujo
refrão diz: “... De copo sempre cheio e coração vazio, ‘tô’ me tornando um cara
solitário e frio...”. Até então nada fora do comum. Uma música amplamente
conhecida no cenário da música nacional, como tantas outras que haviam tocado e
outas que viriam a tocar. Mas num posterior momento de observação pude notar o
quanto aquela letra era cantada com propriedade pelas pessoas que ali estavam, inclusive
por mim, talvez pelo grande sucesso que a referida música tem feito atualmente.
Mas será que é só isso?
Analisando com um pouco
mais de profundidade não é difícil concluir que em alguns aspectos esta música
reflete a realidade de muitos que, de fato, encontram-se de “copo cheio e
coração vazio”, mas não quero com isso reduzir tal reflexão a uma questão
meramente afetivo-emocional, como sugere a canção, seria muito pouco diante do
realmente podemos questionar.
Para início de
conversa, através da metáfora do “copo cheio” fazer alusão a tudo o que toma nosso
tempo, energia, emoção, atenção, tornando nosso “esvaziando nosso coração”. Agendas
cheias, cabeças cheias, vidas cheias e porque não o copo cheio, literalmente?!
Muitos problemas, compromissos, projetos, promessas, desilusões e expectativas acabam
por tomar-nos de quem realmente somos. O barulho e tamanha movimentação de uma
vida cheia são um ótimo esconderijo para quem foge do encontro consigo e daí torna-se
comum encher-se de coisas a fim de protelar tal encontro. Ostentam-se rotinas
agitadas, vidas sociais badaladas, luxo, baladas, currículos, influência, corpos
esculturais e notoriedade, mas e o coração, como está? Esta é a questão! Quem é
e como está a pessoa por detrás de tudo isso?
Em tempos de total
exposição de nossas vidas através das diversas redes sociais, nas quais fazemos
nada mais, nada menos que uma autopromoção de nossas personas, me questiono:
Somos quem e o que ostentamos? Parafraseando Antonie de Sain-Exupéry, em O
Pequeno Príncipe, que diz: “O essencial é invisível aos olhos”, levanto a
questão: O que nos é essencial? O que determina, de fato, a essência do que
somos? O que apresentamos: nossa verdade ou uma personagem de fácil aceitação
geral?
Na condição de filhos
de Deus somos, fomos criados à imagem e semelhança do Amor e para Ele vivemos,
em Sua busca nos encontramos desde o momento em que nos entendemos por gente.
Cada um buscando da sua forma, com o seu jeito, usando do livre-arbítrio a nós
concedido para alcançar esta meta, o que me leva a conclusão de que nosso
coração se preenche à medida em que nos aproximamos daqueles nos aproximam de
nós, consequentemente nos aproximando de Deus. Em minha opinião a verdadeira
ostentação é ter ao nosso lado, pessoas que nos aceitam, acolhem e amam por
quem somos de fato, que marcam presença nas tempestades, quando o “copo” está
quase transbordando, pessoas que mesmo diante de nossos defeitos, preenchem nossa vida e coração,
aproximando-nos assim, de Deus. A verdadeira ostentação é ter ao nosso lado
alguém que nos conduz a Deus.